Viagem realizada em abril de 2017
A Ilha de Páscoa possui um sistema de cavernas único no mundo. Já foram descobertas galerias subterrâneas que totalizam mais de 7 km de extensão.
Rapa Nui foi originada a partir de sucessivas erupções vulcânicas. A diferença de temperatura entre as camadas externa e interna dos fluxos de lava que avançaram na superfície e as grandes bolhas de gases emitidas, levaram à formação de grandes cavidades e longos corredores sob a forma de tubos.
Para visitar a maioria das cavernas é necessário levar lanternas (melhor se for de cabeça) e ir calçado. Em algumas delas, o solo estava bem lamacento e escorregadio. Nós fizemos todos os passeios por conta.
Ana Kai Tangata
É a caverna mais acessível da ilha, está localizada próximo a Hanga Roa. Ela não é profunda, foi formada pelo embate das ondas nas rochas vulcânicas. Ana Kai Tangata é conhecida por suas pinturas rupestres e as lendas que a envolvem.
No idioma rapanui, Ana significa caverna e Tangata, homem. Mas o que intriga muitos estudiosos é a palavra Kai, que quer dizer “comer”. Assim, sua tradução literal seria “caverna onde se comem homens”. Por isso Ana Kai Tangata também é conhecida por “caverna dos canibais”. Segundo a tradição, houve episódios dessa terrível prática durante a história da ilha. Diz-se que o clã campeão da competição do homem-pássaro celebrava a vitória com festas e banquetes que, em algumas ocasiões, incluíam vítimas humanas. Por vezes, isso ocorria nesta caverna. No entanto, ainda não foram encontradas evidências de canibalismo após escavações realizadas no local.
Na caverna foram encontrados alguns vestígios que sugerem que Ana Kai Tangata foi utilizada para construir um tipo específico de canoa.
Outra possível tradução seria para seu nome seria “caverna que come os homens”, devido sua grande abertura que assemelha-se a uma enorme boca que “engole” as pessoas que ali entram.
Infelizmente, muitos petróglifos vistos na caverna já foram bastante apagados pelo tempo. No teto havia muitas pinturas vermelhas do manutara. Esta ave migratória fazia seu ninho na maior ilha localizada em frente à Orongo e era considerada sagrada.
Depois de sair da caverna, fomos explorar os arredores. A vista de lá é muito linda, um pouco para à esquerda vimos uma outra caverna enorme sendo “construída” pelas ondas do mar.
Uma enorme caverna sendo aberta pelo mar.
A caverna Ana Kai Tangata está localizada ao sul de Hanga Roa, cerca de 2 km do centro. Para acessá-la, pegue a rua Policarpo Toro passando atrás da pista do aeroporto.
Na entrada que leva à caverna, há uma lojinha de artesanato. Pode-se parar o carro ali perto.
Ana Kakenga, a caverna das duas janelas
Essa caverna é muito bacana! Nós a visitamos quase no fim da tarde, pois queríamos acompanhar o pôr do sol de lá. Ela é conhecida como caverna das duas janelas, pois após o corredor de entrada encontra-se uma bifurcação. Cada caminho leva a uma “janela” que tem uma bela vista para o mar. Essas aberturas estão localizadas bem no alto do paredão, então deve-se ter cuidado ao se aproximar.
Entrada escondida
Nós quase não encontramos sua entrada. Deixamos o carro estacionado na “portaria” e seguimos caminhando. Andamos uns bons minutos por uma estradinha e não havia nenhuma placa. No começo vimos algumas pessoas voltando, mas não perguntamos nada, pois achávamos que a entrada estava sinalizada. Depois não encontramos mais ninguém pelo caminho, pois já estava entardecendo. Por sorte, vi duas moças sentadas num banco lááááá no fundo, na beira da encosta, à esquerda da estrada. Ali próximo vimos uma placa com o nome “Ana Kakenga”, mas chegando perto não encontramos nenhum sinal de caverna, apenas vimos um pequeno buraco no chão enquanto nos encaminhávamos em direção à placa. Seria aquela a entrada??? A placa não estava perto dali, fiquei em dúvida. Não iria descer pelo buraco sem ter certeza, não dava para enxergar nada lá dentro. Aí fui até as meninas que estavam lá descansando e elas me confirmaram que a entrada da Ana Kakenga era o buraco mesmo. Falaram para tomar cuidado com a cabeça, pois o corredor inicial é bem baixo, tem que andar meio agachado. Depois de passar pelo túnel super baixo é possível levantar.
A janela mais de pertinho e o sol já começando a descer…
Essa é a outra janela da caverna.
Foi muito legal acompanhar o pôr do sol na Ana Kakenga, no silêncio, na paz. Enquanto estávamos aguardando o entardecer chegou um casal de argentinos que tínhamos conhecido no dia anterior. Muito gente boa e alto astral, deviam ter cerca de 50 anos e adoram viagens na natureza, assim como nós. Ficamos trocando dicas, falaram que precisávamos muito conhecer o sul da Argentina e nos perguntaram sobre Noronha, pois desejavam visitar. Bem, somos suspeitos, simplesmente amamos aquele lugar.
O casal chegou esbaforido na Ana Kakenga, quase perderam o pôr do sol. Eles deixaram o carro no Ahu Tahai e resolveram ir caminhando até a caverna, levaram 1 hora para chegar lá. Logo oferecemos uma carona para eles na volta, ficaram extremamente felizes! rs.
Depois que o sol se escondeu no mar, saímos da caverna e vimos o céu ficando cada vez mais colorido. Nessas horas a gente só sente vontade de agradecer…
Começamos a voltar para o estacionamento e logo a noite chegou. Não há iluminação nenhuma na estradinha, estava um breu total, ainda bem que tínhamos lanternas (o casal argentino não tinha levado rsrs). No estacionamento só tinha o nosso carro, o moço da portaria também já tinha ido embora.
O caminho para Ana Kakenga a partir do Ahu Tahai é ruim, cheio de buracos. Em dias de chuva é desaconselhável transitar de carro por ali. Ao fazer este post li que essa estrada deve ser evitada, pois em algumas partes do trajeto a camada vulcânica é bem fina (poucos centímetros de espessura), podendo se partir com a movimentação constante de automóveis. Não sabíamos disso na época que fomos. Há uma outra estrada para Ana Kakenga que parte do Ahu Akivi.
Um pouco acima de Ana Kakenga há uma outra caverna, a Ana Te Pora, mas essa não chegamos a visitar.
Ana Te Pahu
Ana Te Pahu é a maior caverna da Ilha de Páscoa. De acordo com expedições de vários espeleólogos, ela está interconectada por várias câmaras subterrâneas, totalizando mais de 7 km de extensão.
Chegamos em frente à portaria, mas não vimos nenhuma placa. Não sabia se era ali mesmo. Enquanto estava estacionando meu marido desceu e foi perguntar para o funcionário que lugar era aquele:
– “Aquí está la cueva Ana Te Pahu”, disse o moço.
– (Cara de interrogação, tipo WTF?) “Ana…? Disculpe, no entendí” – meu marido nunca sabe dos locais que vamos viajar (rs), então não estava familiarizado com os nomes.
– “Ana Te Pahu” – repetiu o moço rindo.
– (Novamente cara de interrogação + coçando a cabeça) … … … … …
– “Ana… Te… Pahu” – o moço continuava rindo e falava pausadamente com o dedo levantado como professor, esperando meu marido repetir cada palavra.
– “Ana Te Pahu!” – concluiu o moço.
– “Ana Te Pahu!!!” – finalmente meu marido entendeu (amém!).
E ambos “Eeeeeeee” – aperto de mãos – hahahahaha. Cada uma que os funcionários passam com esses turistas, viu… Adorei o bom humor do moço rs.
Mas voltando, deixamos o carro no estacionamento em frente à portaria e fomos caminhando até a entrada da caverna. Estava um sol escaldante, no trajeto encontramos dois cachorros se refrescando numa grande poça barrenta. Olha só que figuras, bem de boas:
Ao redor da estradinha havia muitos, muitos pés de goiabas carregados. Aliás, no caminho para Ahu Akivi também vimos vários.
Enfim, chegamos. Também conhecida como “caverna das bananas”, Ana Te Pahu tem uma grande quantidade de bananeiras em sua entrada, localizada a alguns metros abaixo da superfície.
Descemos uns degraus de pedra e vimos dois caminhos. Decidimos começar pela direita. A galeria subterrânea tinha uma enorme abertura. No solo vimos algumas barreiras de pedra. Estes pequenos muros foram construídos para obrigar os intrusos a entrar um por vez, possibilitando a organização da defesa dos habitantes da caverna. Ela foi utilizada como moradia e também para se refugiar durante as guerras tribais.
Caminhamos até uma clareira que iluminava a vegetação que ali crescia. Mais para frente ficou bem escuro. Estava super escorregadio, tínhamos que ficar caçando pedras para pisar, pois o solo estava pura lama. Percebemos que seria complicado continuar e então resolvemos voltar.
Chegamos novamente à entrada da caverna e seguimos por um corredor à esquerda, cercado por vegetação. Após uma caminhada, encontramos uma bonita árvore cuja copa subiu para o exterior por uma abertura no teto.
Continuamos caminhando, em alguns momentos ficava um breu total. Mais para frente víamos alguns feixes de luz que entravam por buracos no teto.
Vestígios de umu pae, um tipo de forno de pedra utilizado pelos antigos habitantes, foram encontrados no interior da caverna, indicando seu uso como moradia. Aberturas no teto decorrentes de desabamento geraram claraboias por onde a fumaça saía. Estas “janelas” também possibilitava o plantio de alimentos.
Não sabíamos onde chegaríamos, mas continuamos a andança até que terminamos no local abaixo. Percebemos que esse monte de pedras servia como apoio para sair da Ana Te Pahu pela abertura no teto. Uma saída alternativa para quem não deseja voltar pelo mesmo caminho, assim pensamos.
Fui primeiro. No topo do monte vi que teria que fazer um bom esforço com os braços para subir, pois sou baixinha e o teto ainda estava meio alto para mim. Coloquei em prática alguns ensinamentos que vi no “À prova de tudo” e saí! Valeu Bear Grylls, tamo junto! rs
Saí! =D
Onde nós saímos? Também gostaríamos de saber. Estávamos num descampado, não víamos ninguém, nem a estradinha que nos levaria de volta até a portaria. Fomos caminhando, tentando nos orientar até que encontramos a direção.
Nós fomos à Ana Te Pahu a partir do Ahu Akivi, fica pertinho, cerca de 7 minutos de carro. Li agora que esse trajeto tem o mesmo problema da estrada que vai do Tahai até Ana Kakenga, em algumas partes a camada vulcânica é bem fina, podendo se romper com a passagem contínua de automóveis. Uma alternativa é deixar o carro estacionado no Ahu Akivi e ir caminhando até a caverna.
E essas foram as cavernas que nós visitamos, adoramos conhecê-las!