Viagem realizada em janeiro/fevereiro de 2018.
Localizado no Parque Nacional Los Glaciares, a geleira Perito Moreno é um dos cenários mais conhecidos da Patagônia, tanto por sua indiscutível beleza, como por sua facilidade de acesso.
O majestoso glaciar possui cinco quilômetros de largura, 60 metros de altura e cerca de 250 km² de superfície. É gigante, do tamanho aproximado de Buenos Aires! Seu nome é uma homenagem a Francisco Pascasio Moreno, mais conhecido como Perito Moreno, um importante pesquisador da região austral argentina.
A geleira é considerada uma das reservas de água doce mais importantes do mundo. E, diferentemente de outros glaciares que infelizmente estão derretendo em decorrência do aquecimento global, o Glaciar Perito Moreno se mantém estável. Embora ocorram desprendimentos de blocos de gelo constantemente, o glaciar pode “crescer” até 2 metros por dia de acordo com a acumulação da neve em sua zona mais alta.
Eu já tinha visto diversas fotos do Glaciar Perito Moreno, tanto que imaginei que não fosse me surpreender quando o visse. Como estava enganada! Ficar de frente com aquele imponente paredão branco azulado é de arrepiar.
Nós fomos duas vezes, uma por conta só para percorrer as passarelas (veja mais informações no final) e outra para fazer uma caminhada incrível sobre a geleira. Esse último passeio chama-se Mini Trekking e contarei mais detalhes em outro post.
Se você gosta de explorar os locais que visita com calma, fotografar com tranquilidade e ver tudo o que oferecem, sugiro que faça um passeio ao glaciar com permanência de algumas boas horas no local. As passarelas são bem extensas e possibilitam diferentes ângulos de visão em cada uma delas. Cada trecho é delimitado por uma cor, sendo a passarela amarela a mais visitada, com tempo de passeio estimado em 1 hora.
Chegamos por volta das 11 horas e desembarcamos do ônibus no estacionamento da parte de baixo do parque. O transporte permanece no local até o horário da volta. Neste setor inferior há um restaurante chamado Resto del Glaciar e sanitários.
Assim, começamos a caminhada pela passarela azul. Estava bem tranquilo por lá, com pouquíssimas pessoas transitando, já que a maioria dos visitantes desce na parte de cima.
A primeira visão que temos do Glaciar Perito Moreno é impactante. Você consegue enxergá-lo do solo, margeando a costa. Chegando na passarela, começamos a subir…
Há bastante lances de escada, mas com a visão que temos durante o percurso nem notamos. Estava fazendo um friozinho, pois o tempo estava meio nublado e ventando um pouco. Quando abri a mochila para pegar o meu fleece, percebi que o tinha esquecido no hotel. “Tô lascada”, pensei, pois ficaríamos até as 16h por lá.
Para minha sorte, o sol começou a sair timidamente por entre as nuvens e com a andança, o frio já não incomodava mais. Aliás, por volta das 13h o astro-rei apareceu com tudo e chegou até a fazer calor. Por vezes vinha um vento direto do glaciar, parecia que alguém tinha aberto uma geladeira gigante, mas mesmo assim vimos algumas pessoas de camiseta e regata!
Fomos subindo até o primeiro mirante e ficamos bem em frente ao imenso paredão. Emocionante! Há bancos para quem deseja fazer um descanso admirando o glaciar. Na foto abaixo pode-se notar a linda coloração do Lago Argentino, formado pela água do degelo. Ela não é cristalina, mas sim “leitosa”, devido à presença de minerais que são arrastados pela geleira da cordilheira para o lago. Estes ficam em suspensão formando o chamado “leite glacial”.
Continuamos andando e ficávamos cada vez mais próximos da geleira. Paramos no mirante a seguir e aproveitamos para comer nosso lanche sob a sombra da vegetação, que aliviava um pouco o sol quente.
Na foto abaixo podemos ver a “quina” do glaciar. Neste ponto, a altura da geleira atinge aproximadamente 70 metros! Blocos de gelo se desprendem constantemente da porção frontal do glaciar, alguns pequenos e outros enormes. Devido ao ar presente nos icebergs, estes flutuam e somente 10% de seu volume fica à mostra, ou seja, a maior parte do bloco de gelo se encontra abaixo d’água.
O glaciar é formado pela compactação e recristalização de camadas sucessivas de neve. Tem neve de várias épocas ali. As linhas escuras vistas no paredão da geleira são camadas de sedimentos, ocasionadas por fragmentos das montanhas que caem sobre a superfície da geleira e vão sendo cobertos pela massa de gelo.
Chegamos na passarela vermelha. Havia uma placa informando sobre a complexidade alta do trecho, por se tratar de um circuito mais longo, com subidas e vários lances de escadas. Ficamos até meio assustados, mas indo sem pressa não é nada difícil. Aliás, é uma caminhada gostosa, pois essa passarela é bem menos visitada e tranquila.
Chegando no final do circuito da passarela vermelha, decidimos percorrer a passarela verde, que passa pelo bosque. As vistas de lá também são lindas.
Chegando novamente à passarela amarela, fomos subindo para os mirantes que ainda não tínhamos ido. O cenário impressiona de qualquer lugar!
Durante nosso passeio ouvimos várias vezes barulhos bem altos, parecidos com o de um trovão. Eram os blocos de gelo se desprendendo da geleira. Aconteciam com mais frequência na porção esquerda, às vezes precedidos por um estalo. Queríamos registrar o momento, mas não dava tempo.
Um pouco antes de ir embora, ouvimos outro estrondo. Marido rapidamente identificou de onde vinha o som e foi ligeiro com a câmera:
Falando em ruptura do gelo, de tempos em tempos ocorre um grande desabamento. Esse processo ocorre quando a geleira e a montanha rochosa da Península de Magalhães, localizada em frente, se unem de modo que a água que corre normalmente acaba sendo represada.
Com o nível aumentado, a água começa a fazer pressão sobre a parede de gelo, desgastando-a por baixo, até que consegue atravessar. A correnteza vai criando um túnel aos poucos com uma abertura que pode chegar a 50 metros. Em um determinado momento, a enorme ponte de gelo cede devido ao seu próprio peso, levando a um impressionante desmoronamento. Clique aqui para assistir um vídeo e saber mais sobre o processo.
Esse fenômeno se repete a intervalos irregulares. O último ocorreu em 2016 e cerca de 2.000 pessoas puderam acompanhar a ruptura ao vivo, além de milhares pela TV, já que todas as estações da argentina transmitiram o momento. O penúltimo desabamento aconteceu na madrugada de 2012, de forma que ninguém conseguiu presenciar. Antes disso, ocorreu em 2008, 2006, 2004 e em 1988.
Subimos até o primeiro balcão que conta com um espaço coberto, bancos e vidro frontal. Este local fica bem próximo ao estacionamento de cima e está ligado às rampas sem escadas e a um elevador, permitindo o acesso a cadeirantes e pessoas com dificuldade de locomoção.
Nós terminamos o passeio na lanchonete/cafeteria Nativos de la Patagonia, localizada próximo à passarela amarela. Há venda de souvenir por lá também, mas não compramos nada, só fomos para utilizar o sanitário.
Nosso ônibus para voltar a El Calafate estava localizado no estacionamento de baixo do parque. Mas não precisamos descer tudo a pé novamente, pois existem vans que fazem o traslado gratuito de um setor para outro. Pelo que reparei, o serviço é constante: a van encheu, eles saem.
Para o passeio nas passarelas não esqueça do casaco corta-vento, capa de chuva (o clima na Patagônia é imprevisível, pode mudar a qualquer momento), óculos de sol, lanche e água, se for passar algumas horas por lá.
O Glaciar Perito Moreno é realmente espetacular. Mas nossa visita à geleira não terminou por aí. No dia seguinte fomos conhecê-la mais de pertinho, quando pudemos caminhar sobre ela. Foi uma experiência e tanto! Confira o relato no próximo post.
Informações sobre o Parque Nacional Los Glaciares
Ingresso: 500 ARS/pessoa (valor de janeiro/2018), somente em dinheiro e em pesos argentinos. O ingresso deve ser pago todas as vezes que você for visitá-lo. Até pouco tempo havia desconto para residentes do Mercosul, hoje não existe mais. Para caminhar nas passarelas não é preciso pagar nenhuma outra taxa.
Horários de funcionamento e mais informações: clique aqui.
Ida ao Glaciar Perito Moreno por conta (de ônibus)
Passagem de ônibus: nós compramos a passagem de ônibus no terminal rodoviário um dia antes do passeio, no guichê da empresa Cal Tur, com ida às 9h e volta às 16h. Custou 600 ARS/pessoa, aceita cartão de crédito. Outras empresas também fazem o trajeto.
Tempo de viagem: cerca de 1h30min de El Calafate até o estacionamento próximo ao Glaciar Perito Moreno. A vista do lado direito é linda durante a estrada e quando chega próximo à geleira, a vista da esquerda oferece uma panorâmica da geleira.
Chegando na portaria do Parque Nacional Los Glaciares, o ônibus estacionou e não precisamos descer para pagar os ingressos, já que os funcionários do parque entraram, recolheram o dinheiro e nos deram um guia com informações sobre o local. Após passar pela portaria, ainda há um bom caminho a percorrer dentro do parque até chegar no Glaciar Perito Moreno.
Obs.: se você curte carimbos no passaporte, desça rapidinho e vá até o guichê solicitar o seu. Li que também é possível carimbar na Intendencia, localizada na avenida principal de El Calafate.
Parte de baixo e parte de cima do parque
Estacionamento: o ônibus da Cal Tur nos deixou no estacionamento da parte de baixo do parque, próximo à passarela azul. Não sei qual o critério de desembarque de visitantes. Palpito que ônibus de excursão parem na parte de cima e os “de linha/públicos”, estacionem no setor inferior.
Restaurante e cafeteria: Na parte superior há uma lanchonete/cafeteria, o Nativos de la Patagonia e no setor inferior, um restaurante chamado Resto del Glaciar.
Sanitários próximo ao Glaciar Perito Moreno: há somente na lanchonete localizada na parte de cima e no restaurante da parte de baixo. Não há banheiros durante o trajeto das passarelas.
Traslado gratuito: nós começamos a caminhada pela passarela azul (setor inferior) e terminamos na passarela amarela, localizada na parte de cima. Só que o ônibus estava lá embaixo. Sorte que há vans gratuitas que fazem o traslado dos visitantes entre ambos os setores.
Acessibilidade: na parte superior há um trecho da passarela amarela com rampa e elevador.
Olá!
Estou planejando viajar sozinha pela Argentina em 2020. Será que é tranquilo andar
sozinha por lá?
Acham que vale a pena fazer o Big Ice em vez do mini Trekking pelo Glaciar?
Agradeço pelos detalhes dos seus relatos, que estão me ajudando muito! É um prazer ler o blog, só dá mais vontade de viajar!
Abraços!
Olá, Melina! Tudo bem? Desculpe a demora da resposta!
Nós achamos a região da Patagônia bem tranquila, vimos muita gente viajando sozinha.
Sei que no Big Ice vc passa por áreas diferentes do glaciar, bem legais. Pelos relatos que li, quem fez gostou bastante. A caminhada leva mais tempo e exige um bom condicionamento físico.
Mas nós ficamos muito satisfeitos com o mini trekking, para nós foi na medida certa!
Fico muito feliz por ter ajudado com os relatos! 🙂
Abraços e uma ótima viagem!
Bom dia,
amei a matéria e a vontade de conhecer aumentou, vou ter apenas um período
meu voo chega ao meio dia e volto no outro, seria possível uma visita mesmo com tão pouco tempo?
Grata
Olá, Tatiane! Tudo bem?
Fiquei feliz que gostou do post!
A empresa Caltur tem ônibus que sai às 13h e volta às 19h30 (veja mais informações no site deles: https://caltur.com.ar/en/bus-regular-perito-moreno).
Talvez vc tbm possa utilizar um táxi ou entrar em contato com alguma empresa que faça passeios para lá para saber se fazem na parte da tarde!
Nós fomos por conta mesmo, com ônibus da Caltur, mas na parte da manhã.
Olá, bom dia!
Vamos para El Calafate em janeiro de 2019. Adorei sua postagem, com detalhes, impressões e belas fotos! Estamos em dúvida se compramos os bilhetes para os passeios e entrada do parque aqui no Brasil, pelo site, ou deixamos para adquirir na agência lá mesmo…O que você nos aconselha?
Olá, Zilma! Bom dia!
Muito obrigada, fiquei feliz que gostou do post!
A entrada do parque pode ser comprada lá mesmo. Os ônibus param na portaria e os funcionários entram para receber o dinheiro.
De passeio com agência nós só fizemos o Mini Trekking, esse recomendo agendar com antecedência, pois é muito concorrido.
Como é alta temporada no verão, acredito que seja melhor garantir os lugares para outros passeios também, mas aconselho entrar em contato com alguma agência para saber direitinho.