Viagem realizada em janeiro/fevereiro de 2018.
O mini trekking era uma atividade que queríamos experimentar, mas estávamos um pouco indecisos por conta do alto valor. Os passeios, em geral, são caros na Patagônia e dentre tantas opções, vimos que seria preciso fazer escolhas. Mas o impasse não durou muito tempo, afinal, quando é que teríamos outra oportunidade de caminhar sobre uma geleira?
Como fomos no verão, alta temporada, li que era melhor reservar o passeio antecipadamente. Assim o fiz, diretamente com a Hielo y Aventura, a única empresa autorizada a realizar as caminhadas no Glaciar Perito Moreno. Veja mais informações sobre o assunto no final do post.
O Mini Trekking consiste em uma caminhada de 1h30min sobre uma porção da geleira, acompanhada por dois guias. Durante o percurso podemos observar diferentes formações de gelo como fendas, sumidouros, entre outras.
A empresa também realiza o chamado Big Ice, com caminhada de duração de 3h30min entre lagoas azuis, profundas falhas, enormes sumidouros e lindas covas. Esta atividade exige uma boa condição física.
Fechamos o pacote do mini trekking com o traslado incluso e início pela manhã. No horário marcado, 7h30min, uma van da Hielo y Aventura passou para nos pegar. Em seguida, passamos em mais algumas hospedagens para pegar outras pessoas.
Quase na saída da cidade, tivemos que descer da van e subir num ônibus que já estava com mais participantes do mini trekking, praticamente cheio. Acho que a van pega os clientes que estão mais próximos ao centrinho.
A paisagem até o Parque Nacional Los Glaciares é linda, o trajeto é feito pela RP 11. Sentamos do lado direito.
Chegando na portaria do Parque Nacional Los Glaciares, o ônibus estacionou e rapidamente dois funcionários entraram para receber o dinheiro do ingresso. O processo foi super rápido, diferente do dia anterior, que fomos para lá por conta. Eles devem dar prioridade para ônibus de excursões.
Seguimos em frente e descemos num local para quem quisesse usar os sanitários. A próxima parada foi num mirante com vista panorâmica para o Glaciar Perito Moreno. Todos desceram para tirar fotos. Tudo bem rápido para não atrasar o passeio.
Por fim, descemos num porto para pegar uma embarcação até o local do mini trekking. A navegação dura cerca de 15 minutos e é permitido ir do lado de fora. Esse trajeto já é um bônus do passeio, pois temos lindas vistas do glaciar e chegamos bem próximo a ele.
Desembarcamos e seguimos em direção a um local para usar o sanitário e guardar as mochilas. Pode levá-las, mas eles aconselham a carregar somente a câmera fotográfica para um passeio mais leve e confortável na geleira. Uma senhora estava com bastões comuns de caminhada, mas o guia disse que não seriam úteis na geleira.
Vimos que algumas pessoas levaram garrafa d’água e nós realmente sentimos falta. Aliás, é possível coletar água diretamente da geleira em alguns locais. Água pura e estupidamente gelada, diga-se de passagem… rs.
Para fazer o mini trekking é obrigatório usar luvas (pode ser luva comum, de lã), para não nos cortarmos ao nos apoiar no gelo, caso fosse necessário. Eles emprestam para quem não tem. Aconselha-se levar óculos escuros também devido a alta claridade e utilizar protetor solar.
Em seguida, percorremos uma bonita trilha pelo bosque até os pés da geleira. A caminhada não é longa, mas deu pra sentir calor… rs. Chegando cada vez mais próximo do Glaciar Perito Moreno é impossível não ouvir suspiros de admiração. Nós mesmos que já o tínhamos visto de diversos ângulos no dia anterior, ainda nos surpreendemos com sua beleza e magnitude.
Chegamos numa área aberta e os grupos, de no máximo 20 pessoas, começaram a ser organizados de acordo com o idioma que cada um desejasse ouvir durante a caminhada, inglês ou espanhol. Optamos pelo inglês. Nosso grupo foi liderado por um guia bem bacana e divertido, com ajuda de outro profissional que ficava atrás de todos, muito atencioso.
Antes de iniciar o passeio, o guia dá uma ótima explicação sobre a formação do Glaciar Perito Moreno, como caminhar sobre o gelo, entre outras informações como o fato deste glaciar não estar regredindo, ao contrário de outras geleiras do mundo, mantendo-se estável mesmo com tantos desprendimentos de blocos de gelo ocorridos diariamente. Nesse mesmo momento, o discurso foi interrompido por um barulho muito alto, parecido com o de um trovão. Era um enorme bloco se soltando da geleira!
Marido logo começou a registrar o momento:
Perplexos e em silêncio, ficamos todos observando aquele enorme pedaço de gelo submergindo e aparecendo novamente na superfície, produzindo algumas ondas no lago. Em seguida, o guia virou para nós e disse com um sorriso maroto “o timing foi perfeito”… rs.
Terminada a explicação, fomos colocar os grampos sob os calçados, necessários para caminhar na geleira. São os próprios guias que colocam para nós.
O guia repassou a forma correta de caminhar sobre o gelo e partimos para a aventura. Não é difícil, deve-se dar passadas firmes, com os pés meio afastados para não enroscar os grampos um no outro. Nas subidas, os passos devem ser curtos e abertos/inclinados (posição de “v”) e nas descidas, ao invés de posicionar o corpo de lado para não escorregar como às vezes fazemos na terra, deve-se manter os pés retos e tronco virado para frente, para maior tração. As coxas e joelhos sentem a brincadeira… rs.
Após alguns minutos de trilha, o guia pergunta se alguém deseja abortar a missão e voltar. Todos do nosso grupo queriam continuar, então logo seguimos em frente, sedentos por conhecer mais e mais daquela exótica paisagem.
Em determinadas partes do trajeto paramos para o guia nos dar mais informações sobre o local ou mostrar alguma coisa, como o impressionante sumidouro que pode ser visto mais abaixo. Sumidouros são canais verticais e profundos que infiltram o glaciar com água de degelo.
E naquela imensidão onde parece só existir gelo, encontramos vida! Quase no final da caminhada, o guia nos mostrou um curioso inseto. Ele mede cerca de 20 milímetros e chama-se andiperla (Andiperla willink). O diminuto bichinho, que habita permanentemente o glaciar, consegue sobreviver em um local tão inóspito como aquele devido ao glicerol, uma substância presente em seu organismo que não o deixa congelar. Apelidado de “dragão da Patagônia”, se alimenta de bactérias que são ali levadas pelo vento, além de detritos orgânicos e microalgas que vivem no gelo. Também pode ser encontrado em outros glaciares, como o Upsala, Viedma e os do sul do Chile. A natureza é mesmo incrível!
O guia nos contou que demos sorte com o dia bem ensolarado, pois a luminosidade deixa a geleira ainda mais bonita com seus tons azulados. Falando de forma simples, isso acontece porque o gelo glacial absorve todas as cores do espectro luminoso, com exceção do azul, que é refletido na superfície da geleira e pode ser observado por nós. Quanto mais compacto o gelo, mais azulado ele se mostra.
Não vou mentir. Para nós, que só praticamos corrida até a cozinha e levantamento de garfo, a caminhada foi cansativa. Mas é um cansaço de momento, não daqueles que você fica se arrastando o restante do dia, sabe?
Nos sentimos seguros durante todo o percurso, eles não passam por nenhum trecho perigoso, além de nos auxiliarem sempre.
A oportunidade de caminhar por este lugar fantástico compensou cada gota de suor. Sim, o sol quente somado ao esforço da caminhada e a ausência de vento nos fez transpirar. Marido que é super calorento estava louco para tirar o casaco… rs. Mas também pode ventar bastante durante o trajeto, conforme li em outros relatos.
Para finalizar o passeio e comemorar a aventura, a empresa oferece bombons e uísque com gelo retirado do próprio glaciar. Para os que não curtem a bebida, há água geladinha também.
E assim terminou o mini trekking, em torno das 13h. Após o brinde, o trecho até o solo é curto, então o guia diz para descermos sozinhos da geleira e retirarmos nossos grampos. Voltamos para o local onde guardamos as mochilas e fizemos nosso lanche lá, com tempo de descanso de cerca de 1 hora até pegar o barco novamente.
Depois de encher a pança, fomos tirar mais algumas fotos do glaciar. Ô trem bonito! Não nos cansamos de admirar…
O barco chegou junto com uma super ventania. O tempo foi mudando e o sol começou a se esconder. Esfriou bastante. Mesmo assim fomos na parte de fora da embarcação.
De volta ao porto, subimos novamente no ônibus e seguimos para as passarelas. Chegando no local, uma guia da empresa Hielo y Aventura reuniu todos em frente ao mapa das passarelas e nos informou que teríamos uma hora para caminhar por lá e que a passarela amarela era a recomendada devido ao tempo disponível.
Logo no começo do passeio começou a chuviscar bastante, só colocamos nosso capuz e seguimos em frente. Uma hora parece muito, mas passa tão rápido!
Faltando apenas alguns minutos para ir embora, começamos a voltar. Nem percebemos que tínhamos descido tanto pela passarela, tivemos que nos apressar (leia-se subir correndo loucamente).
Chegamos arfando no busão e nos largamos aliviados nos assentos. De repente, começamos a ouvir uns comentários em português com um certo tom de preocupação. Havia alguns turistas brasileiros no grupo e, pelo que pudemos perceber, faltava uma pessoa da família de um deles, um senhor de meia-idade que não havia chegado até o momento. Saíram para procurá-lo e nada. A esposa dele disse que não sabia se ele tinha ouvido que era para voltar dentro de uma hora, pois aparentemente, a família se separou depois que desceu do ônibus, indo cada um para um canto. Parece que ele só queria ir até a lanchonete, pois estava cansado. Perguntamos se tinham olhado nos banheiros e disseram que já tinham averiguado.
Passado uns 20 a 30 minutos, a guia disse que havia um outro ônibus que partiria mais tarde do parque e que o senhor poderia voltar com ele. Não havia muito o que ser feito, pois o local é enorme e ele estava sem celular, além do fato da empresa ter que cumprir o horário. A família mesmo disse que poderiam seguir viagem. A esposa ficou no parque para esperá-lo e então o ônibus partiu.
Chegamos em El Calafate e ainda tínhamos tempo para mais um passeio, então seguimos novamente para a bela Laguna Nimez, local que visitamos em nosso primeiro dia na cidade. Conseguimos ver os flamingos mais uma vez!
Na manhã seguinte, acordamos cedo e seguimos viagem para El Chaltén, uma charmosa e pequenina cidade argentina, conhecida como a capital do trekking!
Mini Trekking no Glaciar Perito Moreno
Preço: 3.300 ARS/pessoa com traslado incluso (valor de janeiro de 2018). Há opção sem traslado também.
Reservas: fiz via online direto com a empresa Hielo y Aventura, a única que realiza a caminhada na geleira. Na alta temporada (verão), aconselha-se realizar a reserva antecipadamente. Há opção de ir e voltar com traslado da empresa, nós utilizamos esse serviço e gostamos. Tudo é bem organizado.
A reserva é feita pelo site preenchendo um formulário. Depois eles enviam um e-mail com outro formulário relacionado à pagamento, sendo que este poderia ser realizado até 3 dias antes do passeio. Os cartões de crédito aceitos eram somente VISA e American Express. Tive algumas dúvidas e entrei em contato com eles via WhatsApp, fui rapidamente atendida.
Se preferir, você pode fazer a reserva com agências de turismo que vendem o passeio.
Horários: quando reservei havia uma saída pela manhã e outra à tarde. Escolhemos ir cedo, então às 7h30min o transporte chegou para nos pegar no hotel.
Duração: a caminhada pelo gelo dura cerca de 1h30min e acabou por volta das 13h, mas depois há tempo de 1 hora para comer o lanche e então a empresa ainda nos leva para caminhar pelas passarelas por 1 hora. O passeio total dura o dia inteiro. Chegamos em El Calafate em torno das 18h.
Ingresso para o parque: NÃO está incluso no pacote. A entrada deve ser paga em dinheiro e em pesos argentinos (ARS 500/pessoa – valor de janeiro de 2018).
Levar: lanche para comer após o mini trekking, luvas, óculos de sol.
Olá! Adorei seu relato, parabéns!!
Compensou fazer as passarelas mesmo você tendo acesso à elas durante o mini-trekking? O visual dos outros circuitos (além do amarelo) compensa?
Obrigada!
Olá, Eduarda! Tudo bem? Desculpe a demora da resposta!
Obrigada, fiquei feliz que curtiu!! 🙂
Nós achamos que compensou sim, pois tbm conseguimos passear bem tranquilamente, qdo possível preferimos fazer os passeios com mais calma. Adoramos as vistas da passarela vermelha!
Uma ótima viagem!!!
Olá, obrigada por todas as dicas e fotos. Vou para El Calafate e só tenho um dia. Queria fazer esse mini trekking, mas estou com medo de ficar muito corrido para as passarelas. Vocês conseguiram ir até onde queriam no tempo de uma hora? A impressão que fiquei, pelas fotos que vi, é que esse percurso pela passarela amarela não leva até aquele ponto mais próximo do glaciar.
Olá, Ludmila! Fico feliz em poder ajudar!
Realmente, em uma hora não é possível andar por todas as passarelas, mas dá sim para chegar até bem pertinho do glaciar pela amarela.
Como nós queríamos percorrer todas as cores e conhecer tudo com calma, não teve jeito, tivemos que reservar um dia só para essa caminhada, pois o lugar é enorme, nesse post coloquei um mapa das passarelas: https://www.detalhesdeviagens.com/2018/02/22/o-majestoso-glaciar-perito-moreno-passeio-de-um-dia-pelas-passarelas/
Uma hora passa rápido, mas é possível aproveitar essa beleza de lugar… saia do ônibus, ouça o comunicado da guia e já vá descendo! 🙂
Uma ótima viagem!!!
Olá! Adorei suas postagens! Impressões, dicas e fotos incríveis! Vamos em janeiro de 2019… Uma dúvida: É melhor comprar os passeios/entrada para o parque antecipadamente, pelo site, aqui no Brasil ou deixamos pra comprar em uma agência lá mesmo? O que você nos aconselha?
Olá, Zilma. Bom dia!
Fiquei feliz que gostou da postagem, obrigada!
A entrada do parque pode ser comprada lá mesmo. Para o Mini Trekking recomendo comprar antecipadamente, pois é bastante concorrido. Nós não fizemos outros passeios, como as navegações por exemplo, mas por ser alta temporada acredito que sejam muito procurados também. Aconselho entrar em contato com alguma agência para saber se os bilhetes esgotam rapidamente.
Uma ótima viagem para vocês, aproveitem muito esse lugar incrível! 🙂
Olá! Pretendo realizar este passeio em janeiro de 2019, e nossa! Seu relato me ajudou muito! Um dos mais completos que vi, parabéns! Me deixou mais ansiosa ainda rsrsrsrs
Olá, Ana!
Fiquei feliz que o post te ajudou! 🙂 Muito obrigada pelo feedback!
Ahhh eu imagino sua ansiedade, tbm fiquei contando os dias! rs
Abraços e uma ótima viagem!!!