Viagem realizada em julho de 2018.
E vale a pena ir à Punta del Este no inverno? Nós achamos que sim! Embora não fosse possível pegar praia, as belas paisagens e a tranquilidade dessa época nos proporcionaram um passeio muito gostoso.
Nós decidimos alugar um carro para ir parando onde desejássemos e acredito ter sido uma ótima escolha. Fizemos a pré-reserva do automóvel antes de viajar, no site da Europcar. Optamos por essa locadora devido à proximidade ao nosso hotel (unidade Punta Carretas) e por ficar aberta até às 21h, já que queríamos entregar o carro no mesmo dia. As outras que pesquisamos fechavam às 18h. A carteira de habilitação brasileira é válida no Uruguai, sendo também necessário apresentar RG ou passaporte na locadora de veículos.
O procedimento para liberar o carro foi rápido, pegamos um Fiat Mobi novinho. Antes de sair da cidade, demos uma paradinha no letreiro Montevideo, localizado na Rambla República del Peru, no final da Praia de Pocitos.
Queríamos tirar uma foto nossa lá perto do letreiro, mas bem naquele momento estava rolando uma reportagem de TV com o cenário de fundo. Foi nesse dia que o Uruguai jogou nas quartas de final da Copa do Mundo de 2018. Nesta partida torcemos pela Celeste que, infelizmente, perdeu para a França. Mais tarde também tivemos o jogo do Brasil…
Aproveitamos para caminhar um pouquinho por ali e admirar a vista. Pocitos parece ser um bairro bem legal para se hospedar, especialmente no verão.
Pegamos o carro e passamos por mais algumas praias. Esta da foto abaixo é a Playa Malvin. Depois das paradinhas colocamos o pé na estrada, pois teríamos cerca de 2h de viagem pela frente.
A Ruta Interbalnearia (IB) que nos leva até Punta del Este é muito boa, nós fomos numa sexta-feira e em dia de jogo do Uruguai na Copa, então imaginem, a estrada estava tranquilíssima. O uso de faróis acesos é obrigatório a qualquer hora do dia, nas estradas e cidades uruguaias e vale lembrar que a tolerância é zero para bebida + direção. Sim, a lei vigente estabelece que todo motorista ficará impossibilitado de dirigir quando a concentração de álcool no sangue for superior a 0,0 gramas por litro.
Passamos por dois pedágios na ida (na volta também), um no Km 33 e outro no Km 81. Pagamos $U95 cada um, em dinheiro. O esquema é igual por aqui, tem cabines para pagamento manual e as automáticas.
De Montevidéu até Punta del Este são cerca de 131 km, mas antes nós decidimos fazer uma parada em Punta Ballena para visitar a icônica Casapueblo, a antiga casa de verão do artista plástico uruguaio Carlos Páez Vilaró.
Localizada no alto de uma colina à beira-mar, a construção lembra muito Santorini, na Grécia, com suas casinhas brancas. No entanto, Vilaró teve o pássaro joão-de-barro como inspiração. “Se um pássaro com um bico constrói sua própria casa, por que não me animar a fazer a minha com minhas próprias mãos?”, dizia ele.
A Casapueblo começou a ser construída em 1958, pelo próprio artista e auxílio dos moradores locais. Não teve planejamento prévio, de forma que foi crescendo e crescendo, dando origem a um complexo. Levou 36 anos para ficar pronta.
Atualmente, no local funcionam um museu com obras do artista, uma galeria de arte, uma cafeteria e um hotel, chamado Club Hotel Casapueblo. Também há um restaurante chamado Las Terrazas aberto ao público, pertencente ao hotel.
Logo na entrada do museu, um funcionário indica uma salinha para assistir a um vídeo narrado pelo próprio Vilaró, que conta um pouco sobre sua vida.
O lugar estava bem vazio e silencioso, assim pudemos passear tranquilamente pela interessante obra arquitetônica. Há detalhes a serem observados em todos os cantos. As varandas oferecem uma vista realmente privilegiada, a construção fica bem na confluência do Rio da Prata com o Oceano Atlântico.
A Casapueblo começou a ser elaborada a partir de um cômodo feito de latas, que mais tarde foi revestido com tábuas de madeiras provenientes de navios naufragados. Anos depois o artista começou a utilizar cimento e cal, pregando uma espécie de tela de galinheiro nas paredes de madeira, moldando a casa com as próprias mãos. Decidiu pintá-la de branco para contrastar com o céu e o mar.
Sabe aquela canção escrita por Vinicius de Moraes “era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada”? Foi inspirada na Casapueblo! O poeta brasileiro era muito amigo de Vilaró e chegou a visitá-lo algumas vezes na época da construção que, de fato, não teve paredes nem nada durante um bom tempo.
Vilaró dizia que Vinicius cantou a música pela primeira vez ali, um momento que ficou marcado em sua memória. “Era uma casa muito engraçada, não tinha portas, não tinha nada, era uma casa de pororó, era a casa de Vilaró”. Essa era a sequência original da canção, um presente do poeta para Agó e Beba, filhas do uruguaio.
Vilaró considerava a Casapueblo seu refúgio, sendo o belíssimo entardecer da região, o fator que mais motivou sua construção. Não à toa é um dos locais mais disputados para apreciar o pôr do sol, que ali é comemorado com a Cerimonia del Sol, uma homenagem ao astro-rei.
Todos os dias, no final da tarde, quando o céu começa a mudar de cor, uma música paira pelo ar e um poema (gravação) é recitado pelo próprio Vilaró, falecido em 2014. Infelizmente, não pudemos prestigiar esse momento único. Se você tiver curiosidade, pode ouvi-lo aqui (vídeo feito no local, com legenda) ou aqui (com tradução).
O sol foi tema de muitas de suas obras. “Tenho tatuado em mim o Sol do Uruguai”, dizia.
Dentre pinturas e esculturas feitas pelo artista, podemos ver muitas lembranças de sua vida pelas paredes e fotos com seus amigos, dentre eles, Pablo Picasso, com quem teve aulas por um certo período.
No museu também há uma homenagem aos mortos e sobreviventes do trágico acidente aéreo ocorrido em 1972. Seu filho, “Carlitos” Páez Rodríguez, estava no voo e foi um dos que conseguiram voltar para casa. A queda do avião uruguaio na Cordilheira dos Andes e a luta pela sobrevivência durante 72 longos e sofridos dias gerou comoção mundial. Em Montevidéu existe um museu, o Museo Andes 1972, que conta sua história detalhadamente.
Este foi um dos episódios mais desesperadores da vida de Vilaró. Quando todas as buscas foram cessadas 15 dias após o acidente, por acreditarem que ninguém pudesse sobreviver na neve por tanto tempo, ele não desistiu. Tinha certeza que reencontraria seu filho. Assim, formou um grupo de resgate e saiu pela neve até que, surpreendentemente, avistaram pegadas perto de uma montanha…
Vilaró decidiu relatar sua apavorante experiência no livro Entre meu filho e eu, a Lua, publicado em 1982, que inclusive, ajudou a recriar a história no filme Vivos, de Frank Marshall, um grande sucesso de Hollywood.
Nós adoramos conhecer a Casapueblo, foi uma visita realmente inspiradora!
Casapueblo (site)
- Horários: segunda à domingo das 10h até o pôr do sol. No verão funciona geralmente até às 21h e no inverno até às 19h (aberto todos os dias do ano).
- Preço: 10 dólares americanos (também aceitam pesos uruguaios e reais). Acima de 65 anos pagam 7 dólares e menores de 12 anos não pagam.
- Como chegar: clique aqui para ver como chegar de carro e ônibus (desde Montevidéu e Punta del Este).
Após sairmos de lá, descemos o morro do terreno ao lado para ver a Casapueblo de outro ângulo e apreciar o mar mais de pertinho. Depois pegamos o carro e seguimos até um mirante localizado mais à frente.
No caminho para Punta del Este não resistimos e paramos mais algumas vezes para fotografar a orla de longe. O clima estava ótimo, nem acreditamos no sol que estava fazendo, já que a previsão era de tempo nublado com possibilidades de chuva.
Chegamos em Punta del Este e estava tudo muito tranquilo. No inverno até os semáforos ficam apagados. Seguimos até a Playa Brava, onde fica o monumento La Mano, a famosa mão que emerge da areia.
A escultura foi instalada em 1982 pelo artista plástico chileno Mario Irrazábal, transformando-se em um dos símbolos da cidade. Foi o modelo inicial para criar outras obras. Mãos similares, do mesmo autor, podem ser vistas em Madri, no deserto do Atacama e em Veneza.
Li uma entrevista do artista em que ele dizia não apreciar muito uma das interpretações de sua obra, que sugeria ser a “mão de um afogado”. Irrazábal conta que nunca pensou dessa forma, por ser algo negativo. Pelo contrário, a elaborou como um desejo de humanizar o mundo.
Voltamos para o carro e fomos margeando a costa, parando algumas vezes para ver as praias. Deve ser uma delícia caminhar pelos extensos decks de madeira que percorrem a orla.
Aproveitamos uma das paradas para “almoçar”. Tinha lido que no inverno quase nada abria em Punta del Este, então levamos uns lanches. De fato, havia muitos estabelecimentos fechados, os restaurantes em funcionamento eram poucos…
Como tínhamos tempo, decidimos conhecer José Ignacio, o balneário vizinho a Punta del Este. No caminho passamos pela Puente de la Barra ou Puente Leonel Vieira, a famosa ponte ondulada. Sua arquitetura única a tornou um dos pontos turísticos da cidade. Pode-se parar o carro numa área próxima à ponte para fotografá-la.
É muito legal passar por ela, dá aquele frio na barriga. Gostamos tanto que a atravessamos umas quatro vezes, nos divertimos… rs.
Um pouco depois da ponte avistamos um mercado Tienda Inglesa e resolvemos parar para comprar água e alguns alfajores e também para usar o banheiro, tem um ao lado da Tienda Deli, na parte de fora.
Compramos alfajores da marca Punta Ballena que li recomendações e são bem gostosos mesmo.
Na estrada sintonizamos numa rádio para acompanhar o jogo do Brasil. Não conseguíamos entender tudo, porém os grupos de whatsApp nos deixavam a par da situação…
De Punta del Este até José Ignacio são cerca de 32 km. A distância entre os balneários não é tão grande, mas percebe-se que a vibe de lá é bem diferente.
O antigo vilarejo de pescadores, quase desconhecido pelos turistas há alguns anos, foi ganhando visibilidade devido aos seus belos cenários naturais, se transformando em um destino rústico chique. Possui duas praias, a Mansa e a Brava, cujos nomes já indicam suas características. Como fomos no inverno, só curtimos o visual. O lugar é lindo mesmo…
Entre as praias está localizado o Farol de José Ignacio, construído em 1877. Sua torre de pedra tem 26 metros de altura. Aproveitamos que estava aberto para visitação e subimos para conferir a vista lá do alto, que é sensacional!
Farol de José Ignacio
- Horários: todos os dias das 10h às 13h | das 15h até o pôr do sol
- Preço: $U25 (menores de 8 anos não podem subir por segurança)
- Obs.: funcionamento sujeito a condições climáticas e manutenção
Já era quase fim de tarde, então resolvemos voltar. Pensamos em parar o carro em algum lugar no caminho para curtir o entardecer, mas o tempo virou e no final não rolou pôr do sol.
Antes de sair de Punta del Este paramos no Casino Conrad, o único cassino privado do Uruguai, localizado num resort 5 estrelas. Paramos o carro no estacionamento, gratuitamente.
Na verdade fomos só para conhecer mesmo e matar a curiosidade. Subimos as escadas rolantes logo após a entrada e uow… quantas luzinhas coloridas! O lugar estava bem vazio.
Depois da rápida visita, foi pé na estrada novamente, já estava começando a escurecer. A volta pareceu beeem mais longa que a ida.
Chegando em Montevidéu paramos num posto para abastecer o carro. A gasolina lá chama-se nafta súper (eles falam somente “súper”) e é bem cara, só não caímos para trás porque já tinha lido a respeito. Pagamos $U54.95/litro (julho/18). O combustível no Uruguai é tabelado, clique aqui para ver os preços atualizados.
A entrega do carro foi tranquila e rápida. Voltando para o hotel vimos um restaurante, o La Cantina del Puertito, e decidimos jantar ali. Adoramos! A comida estava deliciosa e fomos muito bem atendidos. Segue abaixo os preços dos pratos que pedimos e da garrafa de vinho:
E assim terminamos nosso maravilhoso dia! 🙂
Ainda tínhamos um fim de semana inteiro para aproveitar em Montevidéu. No sábado a previsão era de chuva e caiu o maior toró mesmo, mas conseguimos passear. Confira no próximo post!