Viagem realizada em janeiro/fevereiro de 2018.
Em nosso segundo dia em El Chaltén, decidimos fazer a famosa trilha para a Laguna de los Tres, localizada aos pés do Monte Fitz Roy.
Você pode começar a trilha por dois lugares:
- da cidade mesmo, no final da avenida principal: há uma longa e íngreme subida logo de cara. O caminho de ida e volta é o mesmo.
- da Hosteria El Pilar: deve-se pegar um transfer, pois fica a 40 minutos do centro da cidade. A vantagem de começar por ali é evitar aquela subidona, além de passar pelo Mirador Glaciar Piedras Blancas e fazer um percurso diferente na volta até a cidade.
Nós decidimos começar a caminhada pela Hosteria El Pilar. Um dia antes fomos até o Centro de Informações Turísticas para reservar o transfer até lá (veja mais informações no final do post). Aproveitamos para perguntar no balcão se a previsão do tempo mostrava-se favorável para fazer aquela trilha e recebemos uma resposta positiva. Com chuva e ventos fortes, a trilha para a Laguna de los Tres torna-se muito perigosa.
Agendamos a saída às 8h e no horário marcado a van passou no hotel para nos pegar. Seguimos para pegar os outros passageiros e então partimos em direção à hosteria.
Chegamos no local por volta das 8h50min. O céu estava meio encoberto e fazia frio. Nos alongamos e rapidamente começamos a caminhada, pois teríamos um longo percurso pela frente.
Após um curto trecho pela estradinha, saímos em uma área aberta cortada por um riacho de águas cristalinas e um lindo arco-íris de brinde ao fundo. A trilha seguia para à esquerda, uma subidinha leve.
Então entramos num lindo bosque de lengas, árvores típicas da Patagônia. Dependendo do local onde cresce, a lenga pode atingir mais de 30 m de altura e mais de 1 metro de diâmetro. Em altitudes elevadas, esta espécie se apresenta como arbustos medianos.
O percurso pelo bosque é muito agradável e as poucas subidas não são muito íngremes. Após cerca de 1h20min de caminhada chegamos em um mirante com vista para o Glaciar Piedras Blancas.
Continuamos pelo bosque e encontramos uma área descampada. Assim que saímos da proteção das árvores, começou a chover e tivemos que apertar o passo.
O frio era intenso. Ficamos contentes quando vimos outro trecho de bosque mais à frente. Após cerca de 2h de trilha desde a Hosteria El Pilar, chegamos no Camping Poincenot.
Todas as áreas de acampamento presentes nas trilhas de El Chaltén são gratuitas. Não há nenhuma estrutura, apenas uma ou duas latrinas em cada setor.
Andando pela área de camping notamos várias bolinhas brancas no chão. Marido olhou para o alto e percebeu que vinham dos galhos das árvores. Eram fofinhas, pareciam fungos. Pesquisei mais tarde e vi que eram fungos mesmo. São conhecidos como “pão de índio” e, como o nome indica, são comestíveis. Outro nome popular é “pão de Darwin” (Cyttaria darwinii), pois ele o descreveu durante sua expedição para a Terra do Fogo, à bordo do navio Beagle.
O fungo libera substâncias químicas que fazem com que a árvore forme uma deformação nodosa que o sustenta, brotando perenemente na primavera ou no verão. À medida que amadurece, a camada branca começa a ganhar um tom alaranjado intenso.
Seguimos em frente. Pelos nossos cálculos já estávamos próximos da temida subida que nos levaria até a Laguna de los Tres. Até ali o trajeto foi tranquilo, mas sabíamos o que nos aguardava. Antes de começar a subida, paramos para comer nosso lanche.
Após repor as energias, demos início à parte mais difícil da trilha. Uma placa alertava os desavisados. O desnível desse trecho é de 400 m/1km!
O percurso é bem acidentado. Na primeira parte há muitas rochas soltas, depois a trilha vai ficando mais estreita e íngreme e com vários degraus de pedra, de diferentes alturas. Nós nem chegamos a tirar muitas fotos, pois a parada estava tensa. Subíamos um pouquinho e parávamos para descansar. Foram “trocentas” paradas… rs.
Sério, o negócio é sinistro. Você olha para a montanha gigante mais à frente, vê uns pontinhos coloridos lá no alto e pensa “não é possível que temos que subir mais tudo isso”.
Aí você está lá recuperando o fôlego quando passam uns “tiozinhos”, de cabelos brancos e mochila nas costas, subindo aquilo tudo como se estivessem subindo a escada de casa. Tiozinhos somos nós… rs.
Enfim, terminamos aquela montanha aliviados, pensando ter acabado, quando notamos um morrão logo à frente. Como diria Joel Santana:
Pelo menos o trajeto parecia não ter muitos obstáculos. Ainda bem, pois o tempo começou a fechar. Havia muita neblina e nuvens em torno das montanhas, já imaginávamos que não conseguiríamos ver o Monte Fitz Roy.
E finalmente chegamos à Laguna de los Tres! Como era de se esperar, o danado do Fitz Roy estava todo encoberto. Mas isso não tirou nossa alegria e aquele sentimento bom de superação. Antes mesmo de viajar, nós já tínhamos colocado na cabeça que talvez não conseguiríamos ver as famosas paisagens “por completo”. Estávamos preparados psicologicamente para qualquer situação… rs.
À propósito, subimos em 1h10min. Achamos que íamos levar bem mais tempo.
Estava um frio lascado lá em cima. Ventando muito, muito mesmo. E logo começou a chover. Eu estava tão feliz que nem sentia mais o cansaço daquela subida monstruosa. Resolvi descer o barranco que leva até a beira da lagoa. Marido ainda estava exausto, então achou melhor ficar por lá.
Fiquei só um pouquinho lá admirando aquela imensidão azul e comecei a voltar. Quando tinha acabado de subir o morro, a marmota aqui lembrou que havia uma trilha do lado esquerdo do lago que levava a uma outra lagoa, chamada Laguna Sucia.
Não deu outra, “vou voltar lá”, disse para meu marido. Acho que ele foi contagiado por minha animação, pois reuniu forças e resolveu descer também.
Ficamos cerca de 1 hora na Laguna de los Tres e resolvemos voltar, pois estava bem frio e ainda tínhamos um longo caminho pela frente.
Embora exijam bastante das pernas e joelhos, as descidas costumam ser mais rápidas. Porém, a chuva deixou o trajeto bem escorregadio e os ventos estavam cada vez mais fortes. Somado a isso, meu joelho começou a reclamar, fazendo com que fossemos mais devagar. Descemos em 1 hora. Ainda tinha bastante gente começando a subidona.
Continuamos o caminho para a cidade, agora num passo menos apressado do que na ida. O céu estava azul naquela direção e no verão anoitece por volta das 21h, então estávamos tranquilos.
O trecho de volta também é muito gostoso de percorrer, a trilha vai margeando o Arroyo del Salto, um lindo riacho, e passa por descampados e bosques.
Por volta da metade do caminho nos deparamos com uma bifurcação. Ambos os percursos levavam para a continuação da mesma trilha. Indo pelo lado esquerdo passaríamos pelo Mirador Fitz Roy com bela vista para o monte e, pelo lado direito, caminharíamos margeando a Laguna Capri e acampamento de mesmo nome.
Como o Fitz Roy estava se escondendo de nós, decidimos ir pelo outro caminho. A Laguna Capri é muito bonita, com água azulzinha, mas o tempo nublado não revelou toda a sua beleza.
Continuamos pela agradável trilha que passava pelo bosque. Por vezes cruzávamos com pessoas carregando mochilas enormes nas costas, indo em direção contrária à nossa. Nós estávamos descendo e eles subindo! Esse é o trajeto da Laguna de los Tres para quem inicia a trilha no fim da avenida San Martín.
Quase no final do trecho de bosque, ouvimos sons altos, “tac tac tac”, como algo batendo na madeira. “Pica-pau!”, falamos baixinho e logo ficamos procurando por ele. Eram dois, mas estavam muito longe e não tínhamos levado a lente teleobjetiva, então infelizmente não conseguimos fotos boas. Ficamos surpresos com seu tamanho, eram enormes! Li depois que podem medir até 38 cm! O mais engraçado eram suas “gargalhadas”, que lembravam a do desenho animado rs.
Os que nós vimos eram fêmeas, pois tinham a cabeça preta. Os machos têm cabeça vermelha. São conhecidos como “carpintero gigante”, “carpintero negro” ou “carpintero patagonico negro” e são da espécie Campephilus magellanicus.
Saímos do bosque e nos deparamos com o río de Las Vueltas, nos indicando que estávamos próximos da cidade. Ufa! Terminamos a trilha da Laguna de los Tres por volta das 19h. Ao todo levamos 10 horas! O percurso de volta é tranquilo, já que grande parte é descida, mas estávamos cansados e meu joelho estava doendo muito, então caminhamos bem devagar mesmo.
Nós não vimos o Monte Fitz Roy, a estrela desta trilha, mas adoramos percorrê-la. O trajeto é lindo demais! Se você tiver tempo para somente uma trilha em El Chaltén e claro, estiver disposto a encarar a monstruosa subida final, recomendo a trilha para a Laguna de los Tres. As outras são muito bonitas também, mas acho que essa engloba um pouquinho de tudo com paisagens variadas: vista para montanhas, glaciar (começando pela Hosteria El Pilar), lagos, bosques e muitos trechos de riacho com água cristalina.
Trilha Laguna de los Tres
Início da trilha: no final da avenida principal (San Martín), começando já com uma subida íngreme, ou a partir da Hosteria El Pilar. Nós começamos pela hosteria, pois o trajeto é mais tranquilo. Fizemos o agendamento da van com a empresa Las Lengas, cujo guichê está localizado no Centro de Informações Turísticas, ao lado da rodoviária. O preço foi de ARS 200/pessoa (janeiro/2018) e são cerca de 40 minutos de viagem. Escolhemos o primeiro horário de saída, às 8h. Eles te buscam em sua hospedagem.
Extensão: se começar a trilha da cidade, são cerca de 22 km e se começar pela Hosteria El Pilar, são cerca de 20 km (percurso de ida e volta).
Tempo total estimado: 8 horas (nós fizemos em 10h, mas voltamos beeem devagar).
Olá!
Ótimo relato, ficou mto clara a explicação. Estamos de moto. Se quisermos ir de moto até a hosteria, tem lugar para deixar ela? Estacionamento?
Oi Cristine!
Obrigada, fiquei feliz que gostou do relato!
Como já faz alguns anos que fomos para lá, sugiro dar uma perguntada no Centro de Informações Turísticas de El Chaltén.
Na época que fizemos a trilha fomos com transfer, não chegamos a ver estacionamento, a não ser da própria hostería para os hóspedes (não sei se permitem estacionar lá, talvez possam entrar em contato com eles tbm para se informar).
Que relato. Meu sonho realizar essa trilha em 2024. Uma curiosidade : indo pela hosteria El pilar, sei que tem o taxi ou transfer levando até a hosteria. No trajeto da volta pra cidade é possível também pegar o táxi la pra voltar a cidade?
Oi Rafael! Tudo bem?
Fiquei feliz que curtiu o relato. Essa trilha é mesmo maravilhosa!
Acho que se combinar ida e volta com os taxistas pela hostería eles fazem sim, tem que dar uma perguntada nas empresas de transfer tbm.
No post de informações gerais sobre a Patagônia, coloquei uma foto com um telefone de táxi:
https://www.detalhesdeviagens.com/2018/02/19/a-incrivel-patagonia-dicas-gerais/
Mas dá uma avaliada, pois o caminho de volta caminhando para a cidade é diferente (trecho amarelo no mapa) e muito bonito!
Caraca, melhor depoimento até agora, explicando ao certo as trilhas, etc. Estão de parabéns. Nenhuma dos 300 blogs que olhei conseguiu colocar algo tão objetivo.
Olá, Enio! Fiquei muito feliz que curtiu o post!
Obrigada mesmo pelo feedback, nos incentiva a continuar com os relatos!
Olá, parabéns pelo relato! vamos agora em março, e planejo deixar o carro na hosteria e acampar no poincenot e no dia seguinte amanhecer no fitz roy e depois seguir para o Torre. è tranquilo os trasnfer para a Hosteria?
Olá, Rui! Obrigada, fico feliz que gostou!
Sim, o transfer foi bem tranquilo, eles passaram na hora combinada para nos pegar no hotel, deu tudo certinho.
A estrada tbm estava ok.
Muito legal o site de vocês! Pretendo fazer essa viagem agora em janeiro de carro. É possível ir com carro próprio até a hosteria e de lá fazer a trilha? Obrigada
Olá, Julia! Obrigada! 🙂
Acho que se a estrada estiver boa, sem problemas ir por conta. O ruim é que vc terá que fazer a trilha de volta pelo mesmo caminho da ida. Se você fizer a volta em direção ao centrinho, verá paisagens diferentes!