Viagem realizada em janeiro/fevereiro de 2018.
Saímos de El Calafate pela manhã e depois de uma tranquila viagem de ônibus, chegamos à encantadora El Chaltén, também localizada nos limites do Parque Nacional Los Glaciares.
O trajeto entre as cidades é feito em parte pela famosa Ruta 40. Com seus 5224 km de extensão, a mais extensa rodovia da Argentina percorre o país de sul a norte desde a província de Santa Cruz até a divisa com a Bolívia.
Por volta da metade do caminho, a viagem continua pela Ruta 23. Ao todo, são três horas de estrada boa e paisagens maravilhosas. Eu estava bem sonolenta, mas lutava contra o sono para não perder os lindos cenários da Patagônia. Às vezes, é possível avistar guanacos, mamíferos da família dos camelídeos que lembram um pouco as lhamas, entre outros animais. Considerei melhor a vista da esquerda.
Quando estávamos próximos de El Chaltén, o tempo começou a fechar. Nuvens pretas se alastraram pelo céu e acabamos sendo recepcionados com uma boa chuvinha. Não era torrencial, mas o suficiente para nos fazer tremer de frio.
Na entrada da cidade, descemos do ônibus e seguimos ao Centro de Visitantes para ouvir uma breve explanação sobre as trilhas lá existentes entre outras informações. Em seguida, o ônibus se dirigiu à pequena rodoviária, localizada ao lado do Centro de Informações Turísticas.
Desembarcamos e fomos caminhando sob uma leve garoa até nossa hospedagem, a Hosteria Los Ñires. O tempo parecia dar sinais de melhora, mas ainda estava frio e nublado.
A capital do trekking
El Chaltén é a cidade mais recente da Argentina, fundada em 1985 para manter a soberania sobre territórios na disputada fronteira patagônica com o Chile.
Conhecida como a capital do trekking, o povoado com menos de mil habitantes recebe visitantes de todo o mundo que seguem até lá para percorrer suas famosas trilhas ou para conquistar os cumes de duas montanhas espetaculares, o Monte Fitz Roy e o Cerro Torre. Mas essa aventura é reservada somente aos mais experientes alpinistas, já que suas vias de escalada são consideradas as mais difíceis do mundo.
A vibe de El Chatén é muito boa, a todo momento você se depara com pessoas de várias faixas etárias, caminhando com mochilas de todos os tamanhos nas costas. Aliás, caminhar é o que você mais fará. Tudo é bem próximo, você não precisará de carro para circular, já que a maioria dos restaurantes, mercadinhos, lojas e farmácia fica localizada na avenida principal (Av. San Martín).
Embora seja bastante movimentada no verão, o clima que paira no ar é de tranquilidade. Não há correria e nem hora do rush. Para qualquer lugar que você olhe, verá as enormes montanhas que abraçam a cidade. Em dias de céu aberto, o Monte Fitz Roy aparece, todo imponente, sendo possível avistá-lo mesmo da rua. A impressão é de que está olhando pela pequenina vila.
El Chaltén não agrada somente pela belíssima paisagem, mas também por sua deliciosa gastronomia. Comemos muito bem por lá e conseguimos encontrar todos os quilos que perdemos durante as trilhas. Já contei que levantamento de garfo é nosso esporte preferido, né?
Trilha para Chorrillo del Salto
Deixamos as malas no quarto, comemos algumas empanadas numa padaria ali perto do hotel e decidimos partir para nossa primeira trilha de El Chaltén, a que leva ao Chorrillo del Salto, uma charmosa cachoeira de 20 metros de altura. Todas as trilhas de El Chaltén são gratuitas e autoguiadas.
Já eram quase 13h, mas a caminhada não era muito longa, cerca de 6km no total (ida e volta). Nós estávamos hospedados próximo ao início da avenida principal e tivemos que percorrê-la toda para chegar no começo da trilha, localizada no fim da San Martín. São cerca de 1,2km e 15 minutos para cruzar toda a avenida.
O céu continuava cinzento e por vezes a garoa aparecia. Estávamos preparados para qualquer piora no tempo, embora a torcida fosse para que melhorasse. Chegamos numa bifurcação e a placa informava a direção da trilha.
Iniciamos uma caminhada pela estradinha de rípio (RP 23), uma mistura de terra com cascalho, que margeava um largo e bonito rio, chamado río De las Vueltas. Paramos para fotografar e quando olhamos para trás, uma ótima surpresa: o céu estava abrindo!
Continuamos pela estrada até que chegamos num lindo trecho rodeado por árvores típicas da Patagônia, chamadas ñires.
Chegamos até um pequeno estacionamento onde as bicicletas, além dos automóveis, devem ser deixados para continuar a trilha caminhando. Neste local vimos uma placa que indicava o início da trilha (para quem ia sobre rodas, porque a pé era um pouco antes… rs) . Dali até a cachoeira eram cerca de 500 metros.
Obs.: quando chegamos de viagem e passamos as fotos para o computador, notamos que as da câmera do marido estavam todas normais até a metade das que ele tirou nesta trilha. Não sei se mexemos em alguma configuração sem querer, mas grande parte das fotografias dessa e das outras trilhas que fizemos depois, ficou estranha, sem nitidez, como se tivesse sido utilizado um filtro para simular fotos antigas. Chegamos a passar as fotos no visor da câmera durante a viagem, mas não notamos nada anormal. Enfim, ficamos super chateados, mas vida que segue, né… Pelo menos também temos as fotos do meu celular, que passam longe da qualidade da câmera, mas ajudam a ilustrar os posts… :/
… continuando.
Próximo à placa acima, havia outra com os seguintes alertas:
Já tínhamos visto outra placa dessa quando fomos visitar o Glaciar Perito Moreno, próximo à margem da lagoa e, nas outras trilhas que fizemos a seguir em El Chaltén, também nos deparamos com os mesmos alertas. Mas o que exatamente é o didymo?
O didymo (Didymosphenia geminata) é uma alga microscópica de água doce que causa grandes danos ao ecossistema. Era encontrada somente em rios da América do Norte, mas começou a se espalhar pelo mundo, atingindo rios da América do Sul, Europa, Ásia e Oceania.
Esta alga se dissemina rapidamente e em grande escala, formando um “tapete” grosso amarronzado que impede a navegação, causando sérios prejuízos ao governo e ao meio ambiente, já que altera a cadeia alimentar.
O didymo já foi encontrado em algumas regiões da Patagônia, por esse motivo há campanhas para evitar sua propagação em locais em que a água ainda está livre dessas algas. Assim, quaisquer objetos que tenham entrado em contato com outros lagos, lagoas, rios e córregos, como barcos, caiaques, pranchas, artigos de pesca, roupas/calçados etc., devem ser lavados com detergente, seguindo as demais orientações, antes de ingressar no corpo d’água.
Após uma curta caminhada, chegamos na Chorrillo del Salto. A cachoeira estava bem volumosa, levantando um spray d’água pelo ar. A água cristalina vai seguindo seu curso até desembocar no río De las Vueltas.
Vimos uma trilha morro acima e resolvemos averiguar, já que tinha lido sobre a possibilidade de chegar no topo da cachoeira. Fomos subindo e chegamos em um local com uma placa que não recomendava a passagem por não se tratar de uma trilha demarcada (ou algo do tipo). Abortamos a missão e nos contentamos com a bela vista lá do alto.
Descemos, sentamos numa pedra e ficamos curtindo o visual, próximo à cachoeira. De repente, um senhor chegou e começou a seguir para o meio da água, se equilibrando nas pedras para não molhar os pés. Encontrou uma grande rocha inclinada e por ali ficou, deitado sobre ela, curtindo o sol e a brisa refrescante.
Mais pessoas começaram a chegar, famílias com crianças e até com carrinhos de bebê. Pelo que reparamos, a grande maioria tinha ido de excursão para passar o dia na cidade e aproveitaram para fazer essa trilha, já que é a mais rápida e acessível.
Na volta, o sol já tinha aparecido por completo e o calor era intenso. Nem parecia que há algumas horas estávamos tremendo de frio… rs.
Saindo novamente na estrada e voltando para o centrinho, vimos um caminho pelo alto da montanha, paralelo ao rio. Resolvemos fazer esse trajeto, com uma subida inicial não muito íngreme. As vistas de lá eram muito bacanas.
Saímos próximo ao início da trilha para a Laguna de los Tres. Havia pessoas se aquecendo para começar a caminhada, uma senhora subida! Estavam com mochilões, pois iam acampar ao longo do trajeto.
Ali perto vimos uma torneira indicando água potável, aproveitamos para coletar.
Cruzamos novamente a avenida principal e fomos em direção ao Centro de Informações Turísticas, pois queríamos carimbar o passaporte (vocês também colecionam carimbos?) e comprar a passagem do transfer que leva até a Hosteria El Pilar, uma outra opção de início da mais famosa trilha de El Chaltén, a Laguna de los Tres. O próximo post será sobre ela!
Trilha para Chorrillo del Salto
Extensão: cerca de 6 km (ida e volta). Caminhada leve.
Tempo total estimado: 2 horas
Início da trilha: no final da avenida principal (San Martín)